Na mensagem o Papa lembra sobre o maravilhoso encontro que foi a JMJ Rio2013 e diz com suas próprias palavras que foi "uma grande festa de fé e de fraternidade". A próxima jornada intercontinental será realizada em Cracóvia, na Polônia, no ano de 2016.
A partir de 2014 até a jornada intercontinental, o Papa nos incentiva a meditarmos sobre as Bem-Aventuranças (Evangelho de Mateus 5, 1-12). Primeiramente será "Felizes os pobres de espírito, porque deles é o Reino do Céu"; em 2015 será "Felizes os puros de coração, porque verão a Deus"; e em 2016 será "Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia."
Confira abaixo, na íntegra, a mensagem divulgada pelo Papa.
Boletim da Santa Sé
Confira a seguir a mensagem do Papa Francisco para a 29ª Jornada 
Mundial da Juventude, que será realizada em 13 de abril de 2014, Domingo
 de Ramos, em nível diocesano.
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu” (Mt 5, 3)
Queridos jovens,
     Permanece gravado na minha memória o 
encontro extraordinário que vivemos no Rio de Janeiro, na XXVIII Jornada
 Mundial da Juventude: uma grande festa da fé e da fraternidade. A boa 
gente brasileira acolheu-nos de braços escancarados, como a estátua de 
Cristo Redentor que domina, do alto do Corcovado, o magnífico cenário da
 praia de Copacabana. Nas margens do mar, Jesus fez ouvir de novo a sua 
chamada para que cada um de nós se torne seu discípulo missionário, O 
descubra como o tesouro mais precioso da própria vida e partilhe esta 
riqueza com os outros, próximos e distantes, até às extremas periferias 
geográficas e existenciais do nosso tempo.
     A próxima etapa da peregrinação 
intercontinental dos jovens será em Cracóvia, em 2016. Para cadenciar o 
nosso caminho, gostaria nos próximos três anos de reflectir, juntamente 
convosco, sobre as Bem-aventuranças que lemos no Evangelho de São Mateus
 (5, 1-12). Começaremos este ano meditando sobre a primeira: «Felizes os
 pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3); para 
2015, proponho: «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 
5, 8); e finalmente, em 2016, o tema será: «Felizes os misericordiosos, 
porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7).
1. A força revolucionária das Bem-aventuranças
     É-nos sempre muito útil ler e meditar as
 Bem-aventuranças! Jesus proclamou-as no seu primeiro grande sermão, 
feito na margem do lago da Galileia. Havia uma multidão imensa e Ele, 
para ensinar os seus discípulos, subiu a um monte; por isso é chamado o 
«sermão da montanha». Na Bíblia, o monte é visto como lugar onde Deus Se
 revela; pregando sobre o monte, Jesus apresenta-Se como mestre divino, 
como novo Moisés. E que prega Ele? Jesus prega o caminho da vida; aquele
 caminho que Ele mesmo percorre, ou melhor, que é Ele mesmo, e propõe-no
 como caminho da verdadeira felicidade. Em toda a sua vida, desde o 
nascimento na gruta de Belém até à morte na cruz e à ressurreição, Jesus
 encarnou as Bem-aventuranças. Todas as promessas do Reino de Deus se 
cumpriram n’Ele.
     Ao proclamar as Bem-aventuranças, Jesus 
convida-nos a segui-Lo, a percorrer com Ele o caminho do amor, o único 
que conduz à vida eterna. Não é uma estrada fácil, mas o Senhor 
assegura-nos a sua graça e nunca nos deixa sozinhos. Na nossa vida, há 
pobreza, aflições, humilhações, luta pela justiça, esforço da conversão 
quotidiana, combates para viver a vocação à santidade, perseguições e 
muitos outros desafios. Mas, se abrirmos a porta a Jesus, se deixarmos 
que Ele esteja dentro da nossa história, se partilharmos com Ele as 
alegrias e os sofrimentos, experimentaremos uma paz e uma alegria que só
 Deus, amor infinito, pode dar.
     As Bem-aventuranças de Jesus são 
portadoras duma novidade revolucionária, dum modelo de felicidade oposto
 àquele que habitualmente é transmitido pelos mass media, pelo 
pensamento dominante. Para a mentalidade do mundo, é um escândalo que 
Deus tenha vindo para Se fazer um de nós, que tenha morrido numa cruz. 
Na lógica deste mundo, aqueles que Jesus proclama felizes são 
considerados «perdedores», fracos. Ao invés, exalta-se o sucesso a todo o
 custo, o bem-estar, a arrogância do poder, a afirmação própria em 
detrimento dos outros.
     Queridos jovens, Jesus interpela-nos 
para que respondamos à sua proposta de vida, para que decidamos qual 
estrada queremos seguir a fim de chegar à verdadeira alegria. Trata-se 
dum grande desafio de fé. Jesus não teve medo de perguntar aos seus 
discípulos se verdadeiramente queriam segui-Lo ou preferiam ir por 
outros caminhos (cf. Jo 6, 67). E Simão, denominado Pedro, teve a 
coragem de responder: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de 
vida eterna» (Jo 6, 68). Se souberdes, vós também, dizer «sim» a Jesus, a
 vossa vida jovem encher-se-á de significado, e assim será fecunda.
2. A coragem da felicidade
     O termo grego usado no Evangelho é 
makarioi, «bem-aventurados». E «bem-aventurados» quer dizer felizes. Mas
 dizei-me: vós aspirais deveras à felicidade? Num tempo em que se é 
atraído por tantas aparências de felicidade, corre-se o risco de 
contentar-se com pouco, com uma ideia «pequena» da vida. Vós, pelo 
contrário, aspirai a coisas grandes! Ampliai os vossos corações! Como 
dizia o Beato Pierjorge Frassati, «viver sem uma fé, sem um património a
 defender, sem sustentar numa luta contínua a verdade, não é viver, mas 
ir vivendo. Não devemos jamais ir vivendo, mas viver» (Carta a I. 
Bonini, 27 de Fevereiro de 1925). Em 20 de Maio de 1990, no dia da sua 
beatificação, João Paulo II chamou-lhe «homem das Bem-aventuranças» 
(Homilia na Santa Missa: AAS 82 [1990], 1518).
     Se verdadeiramente fizerdes emergir as 
aspirações mais profundas do vosso coração, dar-vos-eis conta de que, em
 vós, há um desejo inextinguível de felicidade, e isto permitir-vos-á 
desmascarar e rejeitar as numerosas ofertas «a baixo preço» que 
encontrais ao vosso redor. Quando procuramos o sucesso, o prazer, a 
riqueza de modo egoísta e idolatrando-os, podemos experimentar também 
momentos de inebriamento, uma falsa sensação de satisfação; mas, no fim 
de contas, tornamo-nos escravos, nunca estamos satisfeitos, sentimo-nos 
impelidos a buscar sempre mais. É muito triste ver uma juventude 
«saciada», mas fraca.
     Escrevendo aos jovens, São João dizia: 
«Vós sois fortes, a palavra de Deus permanece em vós e vós vencestes o 
Maligno» (1 Jo 2, 14). Os jovens que escolhem Cristo são fortes, 
nutrem-se da sua Palavra e não se «empanturram» com outras coisas. Tende
 a coragem de ir contra a corrente. Tende a coragem da verdadeira 
felicidade! Dizei não à cultura do provisório, da superficialidade e do 
descartável, que não vos considera capazes de assumir responsabilidades e
 enfrentar os grandes desafios da vida.
3. Felizes os pobres em espírito…
     A primeira Bem-aventurança, tema da 
próxima Jornada Mundial da Juventude, declara felizes os pobres em 
espírito, porque deles é o Reino do Céu. Num tempo em que muitas pessoas
 penam por causa da crise económica, pode parecer inoportuno acostar 
pobreza e felicidade. Em que sentido podemos conceber a pobreza como uma
 bênção?
     Em primeiro lugar, procuremos 
compreender o que significa «pobres em espírito». Quando o Filho de Deus
 Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento. Como diz
 São Paulo, na Carta aos Filipenses: «Tende entre vós os mesmos 
sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, 
não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, 
esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se 
semelhante aos homens» (2, 5-7). Jesus é Deus que Se despoja da sua 
glória. Vemos aqui a escolha da pobreza feita por Deus: sendo rico, 
fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). É o
 mistério que contemplamos no presépio, vendo o Filho de Deus numa 
manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega ao seu 
ápice.
     O adjectivo grego ptochós (pobre) não 
tem um significado apenas material, mas quer dizer «mendigo». Há que o 
ligar com o conceito hebraico de anawim (os «pobres de Iahweh»), que 
evoca humildade, consciência dos próprios limites, da própria condição 
existencial de pobreza. Os anawim confiam no Senhor, sabem que dependem 
d’Ele.
     Como justamente soube ver Santa Teresa 
do Menino Jesus, Cristo na sua Encarnação apresenta-Se como um mendigo, 
um necessitado em busca de amor. O Catecismo da Igreja Católica fala do 
homem como dum «mendigo de Deus» (n. 2559) e diz-nos que a oração é o 
encontro da sede de Deus com a nossa (n. 2560).
     São Francisco de Assis compreendeu muito
 bem o segredo da Bem-aventurança dos pobres em espírito. De facto, 
quando Jesus lhe falou na pessoa do leproso e no Crucifixo, ele 
reconheceu a grandeza de Deus e a própria condição de humildade. Na sua 
oração, o Poverello passava horas e horas a perguntar ao Senhor: «Quem 
és Tu? Quem sou eu?» Despojou-se duma vida abastada e leviana, para 
desposar a «Senhora Pobreza», a fim de imitar Jesus e seguir o Evangelho
 à letra. Francisco viveu a imitação de Cristo pobre e o amor pelos 
pobres de modo indivisível, como as duas faces duma mesma moeda.
     Posto isto, poder-me-íeis perguntar: 
Mas, em concreto, como é possível fazer com que esta pobreza em espírito
 se transforme em estilo de vida, incida concretamente na nossa 
existência? Respondo-vos em três pontos.
     Antes de mais nada, procurai ser livres 
em relação às coisas. O Senhor chama-nos a um estilo de vida evangélico 
caracterizado pela sobriedade, chama-nos a não ceder à cultura do 
consumo. Trata-se de buscar a essencialidade, aprender a despojarmo-nos 
de tantas coisas supérfluas e inúteis que nos sufocam. Desprendamo-nos 
da ambição de possuir, do dinheiro idolatrado e depois esbanjado. No 
primeiro lugar, coloquemos Jesus. Ele pode libertar-nos das idolatrias 
que nos tornam escravos. Confiai em Deus, queridos jovens! Ele 
conhece-nos, ama-nos e nunca se esquece de nós. Como provê aos lírios do
 campo (cf. Mt 6, 28), também não deixará que nos falte nada! Mesmo para
 superar a crise económica, é preciso estar prontos a mudar o estilo de 
vida, a evitar tantos desperdícios. Como é necessária a coragem da 
felicidade, também é precisa a coragem da sobriedade.
     Em segundo lugar, para viver esta 
Bem-aventurança todos necessitamos de conversão em relação aos pobres. 
Devemos cuidar deles, ser sensíveis às suas carências espirituais e 
materiais. A vós, jovens, confio de modo particular a tarefa de colocar a
 solidariedade no centro da cultura humana. Perante antigas e novas 
formas de pobreza – o desemprego, a emigração, muitas dependências dos 
mais variados tipos –, temos o dever de permanecer vigilantes e 
conscientes, vencendo a tentação da indiferença. Pensemos também 
naqueles que não se sentem amados, não olham com esperança o futuro, 
renunciam a comprometer-se na vida porque se sentem desanimados, 
desiludidos, temerosos. Devemos aprender a estar com os pobres. Não nos 
limitemos a pronunciar belas palavras sobre os pobres! Mas 
encontremo-los, fixemo-los olhos nos olhos, ouçamo-los. Para nós, os 
pobres são uma oportunidade concreta de encontrar o próprio Cristo, de 
tocar a sua carne sofredora.
     Mas – e chegamos ao terceiro ponto – os 
pobres não são pessoas a quem podemos apenas dar qualquer coisa. Eles 
têm tanto para nos oferecer, para nos ensinar. Muito temos nós a 
aprender da sabedoria dos pobres! Pensai que um Santo do século XVIII, 
Bento José Labre – dormia pelas ruas de Roma e vivia das esmolas da 
gente –, tornara-se conselheiro espiritual de muitas pessoas, incluindo 
nobres e prelados. De certo modo, os pobres são uma espécie de mestres 
para nós. Ensinam-nos que uma pessoa não vale por aquilo que possui, 
pelo montante que tem na conta bancária. Um pobre, uma pessoa sem bens 
materiais, conserva sempre a sua dignidade. Os pobres podem ensinar-nos 
muito também sobre a humildade e a confiança em Deus. Na parábola do 
fariseu e do publicano (cf. Lc 18, 9-14), Jesus propõe este último como 
modelo, porque é humilde e se reconhece pecador. E a própria viúva, que 
lança duas moedinhas no tesouro do templo, é exemplo da generosidade de 
quem, mesmo tendo pouco ou nada, dá tudo (Lc 21, 1-4).
4. … porque deles é o Reino do Céu
     Tema central no Evangelho de Jesus é o 
Reino de Deus. Jesus é o Reino de Deus em pessoa, é o Emanuel, Deus 
connosco. E é no coração do homem que se estabelece e cresce o Reino, o 
domínio de Deus. O Reino é, simultaneamente, dom e promessa. Já nos foi 
dado em Jesus, mas deve ainda realizar-se em plenitude. Por isso rezamos
 ao Pai cada dia: «Venha a nós o vosso Reino».
     Há uma ligação profunda entre pobreza e 
evangelização, entre o tema da última Jornada Mundial da Juventude – 
«Ide e fazei discípulos entre todas as nações» (Mt 28, 19) – e o tema 
deste ano: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do 
Céu» (Mt 5, 3). O Senhor quer uma Igreja pobre, que evangelize os 
pobres. Jesus, quando enviou os Doze em missão, disse-lhes: «Não 
possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforge para o
 caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o 
trabalhador merece o seu sustento» (Mt 10, 9-10). A pobreza evangélica é
 condição fundamental para que o Reino de Deus se estenda. As alegrias 
mais belas e espontâneas que vi ao longo da minha vida eram de pessoas 
pobres que tinham pouco a que se agarrar. A evangelização, no nosso 
tempo, só será possível por contágio de alegria.
     Como vimos, a Bem-aventurança dos pobres
 em espírito orienta a nossa relação com Deus, com os bens materiais e 
com os pobres. À vista do exemplo e das palavras de Jesus, damo-nos 
conta da grande necessidade que temos de conversão, de fazer com que a 
lógica do ser mais prevaleça sobre a lógica do ter mais. Os Santos são 
quem mais nos pode ajudar a compreender o significado profundo das 
Bem-aventuranças. Neste sentido, a canonização de João Paulo II, no 
segundo domingo de Páscoa, é um acontecimento que enche o nosso coração 
de alegria. Ele será o grande patrono das Jornadas Mundiais da 
Juventude, de que foi o iniciador e impulsionador. E, na comunhão dos 
Santos, continuará a ser, para todos vós, um pai e um amigo.
     No próximo mês de Abril, tem lugar 
também o trigésimo aniversário da entrega aos jovens da Cruz do Jubileu 
da Redenção. Foi precisamente a partir daquele acto simbólico de João 
Paulo II que principiou a grande peregrinação juvenil que, desde então, 
continua a atravessar os cinco continentes. Muitos recordam as palavras 
com que, no domingo de Páscoa do ano 1984, o Papa acompanhou o seu 
gesto: «Caríssimos jovens, no termo do Ano Santo, confio-vos o próprio 
sinal deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Levai-a ao mundo como sinal 
do amor do Senhor Jesus pela humanidade, e anunciai a todos que só em 
Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção».
     Queridos jovens, o Magnificat, o cântico
 de Maria, pobre em espírito, é também o canto de quem vive as 
Bem-aventuranças. A alegria do Evangelho brota dum coração pobre, que 
sabe exultar e maravilhar-se com as obras de Deus, como o coração da 
Virgem, que todas as gerações chamam «bem-aventurada» (cf. Lc 1, 48). 
Que Ela, a mãe dos pobres e a estrela da nova evangelização, nos ajude a
 viver o Evangelho, a encarnar as Bem-aventuranças na nossa vida, a ter a
 coragem da felicidade.
Vaticano, 21 de Janeiro – Memória de Santa Inês, virgem e mártir – de 2014
 
 
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